o dia que perdi (ou quase perdi) o meu terceiro olho
- natanael dObaluae
- 25 de abr. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 2 de abr. de 2024
morei com a minha avó e a tia caçula desde todo o sempre, elas quem me criaram; mas sempre tive aquele desejo e gostinho de entender como seria morar com a minha mãe: mulher independente, elegante, forte, bem humorada mas uma mãe solteira que cedo precisou trabalhar duro para arcar com as despesas que uma mulher semianalfabeta, com salário mínimo no Brasil e que morava de aluguel nos anos 90/2000 precisou encarar. mesmo que muito moleque, sempre senti que não era fácil… eu tinha esse senso de responsabilidade precoce e entendia por que eu não morava com ela. aliás, a minha matriarca se chama Ero, ou Erotildes.
todas as noites, após chegar do trabalho, por volta das 19h/20h, minha mãe passava em casa para me ver; sempre que podia ela levava um kinder ovo, o que me deixava ainda mais empolgado com a sua chegada… numa dessas, estávamos no quarto, ela conversava com a minha tia Adinar, nós três sentadas no chão, eu no meio, elas e eu rindo... e numa dessas risadas escancaradas, carregadas de alegria, euforia, felicidade, no êxtase da empolgação da presença do seio materno, nos sons do riso de felicidade do que fosse o mais simples ato e na graça de um erê em ter sua mãe na rotina... ali, bem ao lado, uma batida aconteceu: PLOF!!! foi espantoso, rápido, preocupante, precisou-se de esparadrapo, gaze, anti séptico e pomada pois a batida foi uma pancada grande; a pancada foi a minha majestosa testa na quina da cama ao gargalhar exagarado com o corpo e de olhos fechados por algo que já nem me lembro mais…
em seguida, houve uma pausa dramática, um certo espanto… e, seguiu-se os risos contínuos das duas, ao ver minha cara sem graça, de testa inchada e sem entender nada: - kakakaka - elas riam-. claro, viram que a pancada foi pesada mas nada profundo, eu estava bem. um pouco zonzo, mas bem. já o meu terceiro olho, ou despertou de vez, ou está em coma. ainda hoje, recordo, que a minha tia com seus dotes enfermáticos cuidou, limpou a ferida e fez um curativo da proporção da testa ao invés do machucado. logo me deitaram sob a cama, me cubriram quentinho.
o registro do momento dessa "desfolia" foi feito. ali, eu tive o aconchego de ter as minhas rainhas zelando por mim. e a testa? ficou bem, um olho cegueta, ou que enxerga além… penso que foi a partir dali que passei a enxergar que, para sentir, tem que ter sentimento e que, para amar, tem que existir o momento. dessas coisas que são do tempo, do vento, o alento…

registro da minha mãe, eu e meu terceiro olho tapado. foto por minha tia.
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