Axé - nascer e renascer
- natanael dObaluae
- 14 de jun. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 2 de abr. de 2024
As nossas crenças são limitantes e também superestimadas ao perceber os nossos corpos no axé. Sabidamente e numa visão micro, influência de uma doutrina empurrada goela abaixo pelo cristianismo e que a todo custo não mediu esforços para desfazer outras crenças. Mas ainda assim, percebo o quanto os nossos têm inclinado para resgatar a ancestralidade através do axé.
Nos últimos três anos, busco entender o que pode ser o axé, a macumba, as nações-candomblé, a umbanda, quimbanda, jurema e tantos nomes. Essa sede deu-se principalmente por acreditar que meu corpo é também instrumento, mas que por toda a minha trajetória, o desconhecido se fez misterioso, principalmente pelas influências e as disrupções.
Hoje, o meu pensamento é um pouco mais amplo. Nessa amplitude, ainda que pouco, entendo a densidade e vejo o quanto as influências do ego respingam diretamente sob os que praticam verdadeira e essencialmente o axé. E, na minha pequena trajetória, ainda que de longe, sinto o reflexo do quanto a terra é cultivada apenas pelos frutos, sendo axé, resumido a isso. Além de doer, obviamente isso causa repulsa e afastamento.
Mas qual a relação entre nascer e renascer no axé?
Primeiro, acredito que nascer no axé é carregar as crenças de toda uma caminhada ancestral; é perceber que o axé não é feito por nós. É respeitar o cosmo, a magnitude e a sua profundidade enquanto os corpos se tornam estrume bom. A complexidade e a dificuldade que essa ideia tem para os que já são do axé é extremamente cegueira, e é daí que se esquece o que é nascer no axé.
Já renascer no axé é reacender as crenças adormecidas; em suma, na ótica Brasil, renascer no axé também pode ser, para o indivíduo, uma válvula e um caminho para se desfazer das amarras coloniais, imperialistas, ocidentais e egocêntricas. É aqui que a resistência se faz firme. Acredito que muitos de nós precisa renascer do axé. Mas não apenas para desfazer e lutar, não é sobre isso. Renascer no axé é reencontrar o nosso caminho diante da importância de se cuidar do próprio axé; do cultivar, do regar, do cuidar, e só então do lutar.
Renascer no axé não é a busca por grandezas e reconhecimentos. Não é meritocrático, não é político. Ser, tocar e sentir o axé é cuidado, é atenção e firmeza diante das complexidades humanas. É aqui que devemos todos renascer para reintegrar, reestruturar e costurar num ideal espiritual a importância e a simplicidade do que é iniciar-se no axé, o que é essencialmente aiyê, quem é a mão que toca o orí.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Em outras palavras, trata-se de reconhecer as particularidades e nuances que não podem ser previstas ao iniciar, mas, acima de tudo, é a responsabilidade assumida não somente com o plano, mas também com o próximo, longe das devoções. Neste contexto, responsabilidade significa humanidade e respeito mútuo.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Iniciar-se no axé, para muitos, é pressa, obrigação, cargo e necessidade, mas ser do axé é dar ouvidos aos próprios temores e, juntamente, acompanhar os que nos acompanham para que, no momento do axé, renasçamos com axé. Ou seja, deve-se aprender a sentir o orí.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Abaixasse a cabeça no axé para benzer-se do axé. Axé tem peso, e esse deve ser o peso ao levantar a cabeça. Este deve ser o peso carregado ao levantar-se de peito sábio para encarar a vida. Axé não é o caminho, é a caminhada. É o silêncio. É nessa estrada que se tem a força do axé; usa-se sabiamente ou não. Axé é cultivado na terra e brotado no tempo.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Atoto.
Posts recentes
Ver tudopoema que faz crítica ao mundo branco. Ó, meu lorde, não choras. não faz mal que tenhas privilégios. aos outros, peço que, se assim for,...
acordo com a certeza que fui roubado. talvez fosse um sonho enquanto os olhos tentavam abrir. tenho a sensação que me pesa ao lapsiar o...
creio que a saudade também tem um peso que pesa. minha avó, dona Maria, mesmo sendo uma mulher muito reservada, carregava estrelas...
Commentaires